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Publicado em: 05/06/2017

"Dificuldades para estudos em larga escala no Brasil são enormes"

Doutora em Fisioterapia, Mônica Perracini falou à Revista do Crefito-3 sobre o estudo sobre Fisioterapia em Gerontologia,apresentado durante evento do WCPT

Crefito-3 - Qual será sua abordagem na mesa dedicada à sua área de investigação? Existem características exclusivas do contexto brasileiro, que diferem em relação a outros países?

Drª Mônica Perracini - Vou descrever o ensaio clínico controlado que estou conduzindo. Trata-se do 1o. ensaio clínico para avaliar os efeitos de um programa de exercícios sobre a melhora da mobilidade funcional em pessoas idosas pós cirurgia de fratura de quadril decorrente de queda. O nome do estudo é REATIVE

O título do estudo é:  Efetividade de um programa de exercícios físicos na melhora da mobilidade funcional em idosos pós-fratura de quadril na fase de reabilitação tardia: um ensaio clínico aleatorizado

Este estudo é financiado pela FAPESP e o protocolo do ensaio clínico foi publicado na BMC Geriatrics e conta com a colaboração da Profa. Cathie Sherrington, que é pesquisadora do The George Institute for Global Health e da Universidade de Sydney (onde eu fiz meu Pós Doutorado em 2012).

A diferença no contexto brasileiro infelizmente é o de que muito idosos não fazem fisioterapia na fase pós-hospitalar (sub-aguda). Normalmente, a fisioterapia é oferecida ambulatorialmente. Porém  estes pacientes não conseguem ir ao tratamento oferecido. Vários são os fatores que contribuem para isto: existência de múltiplas doenças crônicas, fragilidade, dificuldade de mobilidade por limitações físicas, sensoriais e psicológicas  (pex. fraqueza muscular, dor,medo de cair, diminuição ), além de problemas com transporte e ausência de cuidadores que possam acompanha-los. 

Em todo o mundo, a  recuperação funcional pós cirurgia por fratura  é demorada e muitos idosos não recuperam o mesmo desempenho funcional anterior a fratura mas, em geral estes idosos tem acesso a fisioterapia intensiva neste período pós fratura (alguns países oferecem como transição de cuidados o Hospital de Reabilitação). No nosso estudo, dos participantes avaliados apenas cerca de 15% fizeram fisioterapia. 

O que se discute internacionalmente é a necessidade de expansão e intensificação do tempo de tratamento. Nossa proposta é oferecer fisioterapia depois da fase sub-aguda e verificar se mesmo na fase de reabilitação tardia existem ganhos funcionais com a fisioterapia. A fisioterapia em nosso estudo é feita em domicilio.

Desenvolvemos um manual de saúde óssea e uma cartilha de exercícios. A intervenção está baseada num  treino progressivo do equilíbrio corporal e um treino neuromuscular e funcional de membros inferiores, realizados no domicilio do participante por profissional de fisioterapia com frequência de 1 (uma) visita semanal e com duração de 1 (uma) hora no 1º.,2º. e 3º. mês pós randomização e orientação de exercícios domiciliares por meio de cartilha (2x por semana); visitas para seguimento dos exercícios 1 (uma) vez ao mês no 4º., 5º. e 6º. mês e; posterior visita a cada dois (dois) meses no 8º.,10º. e 12º. mês, totalizando 18 sessões/visitas em 12 meses para cada participante deste grupo. Os participantes deste grupo receberão ligações quinzenais para aumentar a aderência e motivação quanto à realização dos exercícios e para perguntar sobre quedas.

 

Quais as dificuldades para o desenvolvimento de estudos em larga escala no Brasil que comprovem a importância da intervenção fisioterapêutica na prevenção de quedas e reabilitação de fraturas em idosos?

São enormes. 

A captação de participantes é difícil. Tivemos que ir atrás de vários hospitais para estes pudessem colaborar encaminhando os pacientes (Hospital Municipal do Tatuapé, do Servidor Público Estadual, Hospital das Clínicas, UNIFESP). No entanto, em muitos não existe uma lista atualizada e um encaminhamento de pacientes para acompanhamento pós fratura que seja efetivo.

Assim tivemos de tudo, por exemplo, listas da sala de cirurgia, sem idade e sem diagnóstico, o que fez com que a equipe tivesse que ligar para buscar ativamente estes pacientes. Muitos pacientes moram em locais de difícil acesso, em bairros distantes ou em outros municípios e outros ainda tem telefones que não conferem ou não conseguimos contato.

Além disso, cerca de 30% dos idosos morre no 1o. ano da fratura, muitos tiveram mais de uma fratura, outros não tem interesse em participar (muitos ficam receosos de receber o profissional em casa).

Paralelamente, a este estudo estamos fazendo um levantamento com os fisioterapeutas sobre a sua prática clínica com idosos pós cirurgia por fratura de quadril por meio de uma survey on line. Estamos fazendo isso no Brasil, na Holanda, na Austrália. Mas, a adesão de fisioterapeutas brasileiros é baixa. O que é uma pena. 

O Brasil terá um aumento significativo dos casos de fratura de quedas nas próximas décadas, em função do envelhecimento populacional e os dados de pesquisa nessa área são urgentes.

 

Como avalia a Fisioterapia brasileira e as pesquisas em sua área de atuação, em relação ao que tem sido desenvolvido mundialmente?

As condições de pesquisa fora do Brasil são muito melhores, especialmente para os estudos longitudinais (aqueles que acompanham os idosos ao longo do tempo). Com mais recursos. Essas pesquisas são caras e envolvem equipes de gestão para coleta e para alimentação  de banco de dados, o que nos coloca em certa desvantagem para alcançar os mesmos objetivos (tamanhos de amostra maiores e com seguimentos longos). Acredito que nossos melhores resultados advém de redes de colaboração. E essas pesquisas precisam ser induzidas e alimentadas por agências de fomento.

Ainda assim, em termos de recursos humanos temos bons pesquisadores. Há nos últimos anos uma leva de pesquisadores mais jovens e  capacitados para um ambiente de pesquisa mais competitivo e que têm desenvolvido linhas de pesquisa bastante promissoras na área de envelhecimento. Particularmente em  Fisioterapia Gerontológica. No entanto, tanto em Pesquisa, quanto em Prática Clinica o número de fisioterapeutas voltados para essa área é pequeno no Brasil. Somente neste ano tivemos o reconhecimento da especialidade dentro da Fisioterapia. 

 

De que forma será possível a colaboração entre os diferentes centros de pesquisa que se dedicam à sua área de investigação? 

Essa colaboração é fundamental. Como eu disse, é muito difícil hoje fazer pesquisa de forma isolada. Redes de colaboração são fundamentais para o desenvolvimento de pesquisas inovadoras e que possam gerar novos conhecimentos.

Tive uma experiência muito promissora quando participei da Rede de Colaboração FIBRA -Fragilidade em Idosos Brasileiros e atualmente participo de um grupo de Interesse na Fragility Fracture Network que está conduzindo o AUDIT sobre mobilização pós cirurgia por fratura de quadril.

Mas, acredito que possamos avançar ainda mais.