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Aprovação de projeto de lei coloca em destaque a importância da abordagem interdisciplinar no enfrentamento da seletividade alimentar de crianças diagnosticadas com TEA.
Publicado em: 29/08/2021
29 de agosto: Dia Nacional da Visibilidade Lésbica
A data, escolhida em razão do 1º Seminário Nacional de Lésbicas (Senale), que aconteceu em 1996, é um dia dedicado a discutir políticas públicas de combate à lesbofobia e dar visibilidade à comunidade lésbica no Brasil.
Neste domingo, dia 29 de agosto, é comemorado o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica. A data tem por objetivo trazer à tona a luta por visibilidade da mulher lésbica, bem como discutir políticas públicas de combate à lesbofobia e outras reivindicações do movimento. O dia foi escolhido por marcar a realização do primeiro Seminário Nacional de Lésbicas (Senale) no país, em 1996. O evento foi organizado pelo Coletivo de Lésbicas do Rio de Janeiro (COLERJ) com o tema “Visibilidade, Saúde e Organização”, que abordou temas como prevenção de ISTs, HIV-Aids, trabalho, cidadania e sexualidade.
Levante no Ferro’s Bar
O mês de agosto marca dois importantes acontecimentos da luta de mulheres lésbicas e bissexuais por uma sociedade com igualdade de direitos e respeito. Essas datas, tanto o Dia do Orgulho Lésbico (19 de agosto) quanto o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica (29 de agosto) estão ligadas a episódios que culminaram para o avanço de direitos e representatividade para as mulheres da comunidade LGBTQIA+. Um desses acontecimentos foi o levante no Ferro’s Bar, em 19 de agosto de 1983. Mulheres do Grupo Ação Lésbica Feminista (Galf) deram início a um protesto no Ferro’s Bar, em São Paulo, ponto de encontro de mulheres lésbicas que, no contexto da ditadura militar, discutiam ideais e pautas da comunidade LGBT. Incomodado com a venda do “Chanacomchana”, um jornal focado no público lésbico e produzido de forma independente pelas mulheres do Galf, o dono do estabelecimento chamou a polícia porque as reuniões das mulheres “atentavam contra os valores da família”.
Foi então que liderado por Rosely Roth, pioneira do movimento lésbico no Brasil, as integrantes do Galf invadiram o interior do bar e leram um manifesto lésbico contra a censura do estabelecimento, exigindo que a venda do jornal fosse permitida e que elas fossem respeitadas. Após o levante, o dono do Ferro’s Bar pediu desculpas às mulheres e permitiu a venda do jornal no local. Com a morte de Rosely, em 2003, a data foi fixada no calendário como o Dia do Orgulho Lésbico em homenagem à ativista e ao ato liderado por ela.
“A causa existe e é preciso ser visibilizada por todos”
Para falar sobre a importância da data, conversamos com a fisioterapeuta Dra. Giovana Lorenzon Rosa e a terapeuta ocupacional Dra. Fernanda Andrade, que nos deram um depoimento sobre a importância da data e as barreiras pessoais enfrentadas, as conquistas nos setores em que atuam, a aceitabilidade da sociedade, da família e dos colegas de trabalho.
“A falta de representatividade dentro da área da saúde é algo que reflete nos profissionais de forma direta, dentro e fora da sua atuação profissional. Muitos profissionais que fazem parte da comunidade LGBTQIA+ sentem-se reprimidos em expressar a orientação sexual pelo medo da homofobia que poderá ocorrer entre os colegas e pacientes, havendo uma perda de identidade e mascarando a essência de ser quem é para o mundo.
A causa existe e é preciso ser visibilizada por todos. Ninguém deveria ter medo de ser quem em, nem mesmo na sua atuação profissional no dia-a-dia.
A mulher lésbica luta diariamente pelo respeito e pelo fim da sua objetificação.
Sou mulher, lésbica, e Fisioterapeuta e mulheres lésbicas ocupam todos os espaços, incluindo os de profissionais da saúde.
Tenho orgulho de ser quem sou, exercer minha profissão e representar a minha essência em todos os espaços”, disse Dra. Giovana.
“MIMIMI é uma dor que não dói em você”
“Esta data é muito importante se não nos limitarmos a discutir esta pauta apenas nela. Não é uma data comemorativa. Ela não comemora, ela memora muitas dores e desafios que são atualizados dia após dia. É muito comum ouvirmos que "nos dias atuais, muita coisa já “melhorou" pra gente”. Mas muita coisa ainda é pouco. Historicamente, as profissões da saúde são compostas por majoritariamente mulheres e também majoritariamente mulheres que performam a identidade heteronormativa, que assumem o lugar do cuidado, da mulher meiga, delicada e cuidadosa. Apesar destas serem características que podem habitar qualquer corpo, seja homem ou mulher, as pessoas continuam esperando reconhecer essas características de bondade e cuidado em corpos específicos, estereotipados. Então, não basta você ser mulher, você precisa ser uma mulher que responda a esta imagem da cabeça das pessoas. Isto é uma mulher geralmente branca, magra, jovem e que constrói uma família com um homem sério, bem colocado socialmente. Isso influencia no meu trabalho? Ser casada com uma mulher e não com um homem? Ter cabelos curtos?
Apesar de não influenciar é comum ainda que, em determinados espaços de trabalho, eu seja tratada de forma diferente, subestimada ou menosprezada a partir do momento em que sou descoberta enquanto uma mulher lésbica. Ser negra já é uma questão importante que dita como vou ser tratada ou entendida/ouvida, mas eu nunca pude experimentar como seria caso eu fosse branca. Mas, diferente disso, ser lésbica não é algo óbvio, estampado na minha cara e a forma como sou legitimada, ouvida ou tratada quando descobrem meu casamento com uma mulher, por exemplo, é assustadoramente diferente do que existe antes desta descoberta. Dá pra comparar.
Uma vez, numa entrevista de emprego para trabalhar em uma instituição de longa permanência, ao descobrir que eu tinha uma esposa, a entrevistadora olhou decepcionada para a acompanhante do RH e disse que apesar de ter gostado muito do meu currículo, precisava ser sincera e me pedir para que, caso eu aceitasse a vaga, eu não contasse para os idosos porque poderia gerar atritos e estresse desnecessários. Eu não aceitei a vaga.
Todas as entrevistas que fiz para outros municípios contavam com a pergunta "o que seu marido pensa sobre essa mudança de cidade?" E ao descobrirem ser uma esposa, e não um marido, a entrevista se seguia desconfortante. Em uma clínica que trabalhei, também fui orientada a não contar para as crianças que atendia, para não influenciá-las, pois eram muito novas para entender sobre isso.
O que é "isso"? Porque "isso" não existe para profissionais que não são homossexuais.
Aos poucos, entendendo que eu poderia colocar meu profissionalismo em cheque por conta da minha orientação, eu fui ficando com medo de perder oportunidades importantes e meio que contra minha vontade, esconder, omitir essa parte da minha identidade.
Violentada, às vezes, algum usuário do serviço que atendo me pergunta "você é casada?" Apontando para aliança. Eu respondo que sim e imediatamente mudo de assunto para que não surja a pergunta seguinte que geralmente é "qual o nome do seu marido".
Não ser hétero constantemente faz com que as pessoas percam a delicadeza em uma relação comigo, entenda que de alguma forma eu me aproximo da estranha construção de uma masculinidade bruta, descuidada.
Às vezes, antes de me apresentar para pacientes, possíveis empregadores, enquanto eu me arrumo, escolho a roupa, penteio o cabelo, meu único desejo é conseguir parecer o mais hétero possível. Sempre uso maquiagem, apesar de não ser algo que eu goste de ver no meu rosto, porque a maquiagem tende a ser associada à feminilidade. Eu penso "preciso que esta pessoa me dê uma chance para saber que sou boa, depois eu posso ser eu mesma".
Esse relato pode não fazer sentido para muita gente, que julga que o mundo já nos aceita bem. Mas é muito difícil ser eu mesma, sendo lésbica e terapeuta ocupacional.
Às vezes eu pergunto para as pessoas: "imagina uma TO ou uma fisio, que você não conheça, só imagine uma. Como era a profissional que você imaginou?"
Não é mentira que nesse imaginário, quase sempre aparece uma profissional bem diferente do que eu sou. Assim, como não é incomum perceber o semblante decepcionado ou desconfiado quando alguém me conhece pessoalmente.
Para a minha família, graças a Deus, nunca foi uma grande questão. Mas eu já precisei lidar com relatos de preconceito que minha mãe sofre por ter uma filha lésbica. Ela é culpada por "não ter conseguido me educar direito", por "perder minha alma" e outras tantas frases rudes e sem sentido que ela já ouviu ou que eu já ouvi com ela. No curso que ela fazia, um dia ela levou uns bolos, quitutes para o café da tarde coletivo. Era uma prática comum. Suas companheiras não aceitaram comer suas comidas por nojo, por ela ter uma filha lésbica em casa e comunicaram isso. Ela nunca mais voltou. Era um curso importante pra ela. Doeu eu mim e doeu nela.
Se as pessoas acham que não precisamos mais falar sobre lesbofobia, homofobia porque as coisas já estão melhores, é porque estas pessoas não são a gente e só a gente sabe e sente o que ainda acontece, muitas vezes por baixo dos panos. Por isso precisamos falar, conversar sobre, denunciar, porque, às vezes, parece que vivemos em um mundo ideal e que tudo virou “mimimi”. O significado oficial de “MIMIMI é uma dor que não dói em você” relata Dra. Fernanda Andrade.