A Câmara Técnica de Saúde Suplementar do CREFITO-3 publicou o Parecer Técnico nº 01/2025, que responde a uma demanda da Ouvidoria sobre glosas em procedimentos fisioterapêuticos com base na justificativa de “uso específico da Fisiatria”
Aprovação de projeto de lei coloca em destaque a importância da abordagem interdisciplinar no enfrentamento da seletividade alimentar de crianças diagnosticadas com TEA.
Publicado em: 01/09/2022
Setembro Verde: Mês de conscientização sobre a importância da doação de órgãos
O transplante de órgãos é um procedimento cirúrgico que consiste na substituição de um órgão ou tecido de uma pessoa enferma (receptor), por outro órgão ou tecido em condições normais de um doador vivo ou falecido.
Setembro Verde é o nome dado à campanha que busca conscientizar as pessoas sobre a importância da doação de órgãos. De acordo com a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), dados do Ministério da Saúde, em 2018, apontam que foram realizados 26.518 transplantes. Destes, 8.853 foram de coração, fígado, pâncreas, pulmão e rim (sendo este último o com maior número, 5.999); 14.778 de córnea; e 2.877 de medula óssea. A entidade alerta que as filas de espera para receber um órgão ainda são longas porque o número de doações é inferior à demanda. Além disso, fatores como rejeição das famílias em doar, desconhecimento sobre o assunto e o curto tempo entre a retirada do órgão e sua implantação também dificultam a doação de órgãos. Para falar sobre a importância da doação de órgãos, convidamos a fisioterapeuta Dra. Thalissa Maniaes, Coordenadora da Câmara Técnica de Fisioterapia em Oncologia do Crefito-3, e a terapeuta ocupacional Dra. Renata Sloboda, que explicaram a atuação da Fisioterapia e da Terapia Ocupacional neste contexto. Fisioterapia De acordo com Dra. Thalissa, “o transplante de órgãos tornou-se uma opção de excelência no tratamento da falência terminal de órgãos em pacientes bem selecionados, por isso, a importância de ressaltar sobre ser um doador de órgãos e deixar essa vontade devidamente registrada”. Campanhas de educação sobre transplantes e seus conceitos envolvidos, esclarecimento de dúvidas e combate a mitos devem ser constantes, inclusive para os profissionais da saúde. “A Fisioterapia tem um papel fundamental nas diversas fases do transplante, seja ele, intervivos ou não, desde a manutenção do suporte de vida do potencial doador que sofreu morte encefálica, ou seja, a manutenção da assistência ventilatória para manter a funcionalidade dos órgãos do paciente doador até o cuidado de forma segura dos pacientes que estão na fila de espera aguardando pelo transplante. O fisioterapeuta também atua no período imediato pós transplante, durante a internação hospitalar e no período pós transplante. O objetivo nesta fase é evitar as complicações que possam ocorrer e restaurar as condições físicas auxiliando no retorno assim que possível, do paciente, para as suas atividades produtivas. Segundo dados do Ministério da Saúde (2022), o Brasil é o terceiro país que mais realiza transplante de rins no mundo e a inserção do fisioterapeuta nesta área que tem alta demanda, gera uma gama de oportunidades profissionais”, conclui. Terapia Ocupacional Dra. Renata Sloboda Bittencourt, terapeuta ocupacional com atuação em Unidade de Transplante de Células-Tronco Hematopoéticas e Enfermaria de Onco-Hematología Pediátrica, relatou como se dá o papel do terapeuta ocupacional no contexto do transplante de órgãos. “O transplante de medula óssea (TMO) gera no sujeito mudanças e rupturas em suas relações e em seu cotidiano. “O caminho do paciente com indicação para esse tratamento geralmente é longo e se inicia com o recebimento do diagnóstico da doença, a partir do qual ele passa a vivenciar alguns problemas decorrentes do estresse a que é submetido, como a alteração na rotina de trabalho, na escola, na sua casa e nos papéis ocupacionais. Durante a internação para o transplante, o paciente costuma ficar em torno de 45 dias em um leito de isolamento, onde o ar é filtrado, os alimentos necessitam ser cozidos, o acesso a esse paciente é restrito até mesmo entre a equipe de saúde que, ao entrar, deve estar sempre paramentada com traje específico da unidade”, explicou. Para que o paciente possa receber a medula do doador, ele é submetido a doses intensivas de quimioterápicos, muitas vezes acrescidas de irradiação corporal total. Este tratamento é conhecido como regime de condicionamento e frequentemente assume um caráter mieloablativo, destruindo a sua medula, para que a nova medula possa começar a trabalhar em seu corpo. Mas até isso acontecer ele passa por um período de intensa imunossupressão, com risco muito elevado de infecção e outras possíveis complicações, como doença do enxerto contra o hospedeiro ou doença veno-oclusiva. E mesmo após a “pega da medula” e o risco de infecção reduzir, esta ainda é uma preocupação constante para estes pacientes, que manterão seu cotidiano restrito mesmo após a alta, pois eles necessitam tomar imunossupressor, e devem manter os cuidados com alimentação, restrição de contato social, não podem ter contato com animais, não podem retornar ao seu trabalho ou escola, realizar atividade sexual, não podem frequentar espaços públicos aglomerados como igreja, shopping, festa. Mas, diferente de transplantes de órgãos sólidos, o paciente transplantado de medula óssea não irá precisar tomar o imunossupressor para sempre, pois é a medula óssea a responsável pela imunidade e pela possível rejeição. Então com o passar do tempo, a partir da estabilidade clínica do paciente e da possibilidade de retirar o imunossupressor ele vai podendo gradualmente retomar suas atividades. A literatura traz que eles conseguem retomar seu cotidiano de fato um ano após o TMO, pois é quando terminam de tomar todas as vacinas e podem finalmente retomar todas as atividades sem qualquer restrição. Falando especificamente do transplante de medula, por se tratar de um procedimento complexo do ponto de vista orgânico e psicossocial, a atuação do terapeuta ocupacional, inserido na equipe de saúde, se faz importante em todas as fases do tratamento. Lembrando que o adoecimento e a hospitalização geram sofrimento não apenas na pessoa que adoeceu, mas também em todo seu grupo sócio familiar, alterando o lugar de vida e papéis sociais, por isso, enfatiza-se a importância da intervenção terapêutica ocupacional também com a família/cuidador. No pré-transplante, o terapeuta, previamente à internação, pode estabelecer o contrato terapêutico ocupacional e orientar o paciente e familiares/cuidadores sobre a rotina hospitalar e a possibilidade de o paciente trazer alguns recursos para realização de atividades e interesse para a internação. Neste momento, orienta-se também sobre o processo do transplante visando auxiliar no processo de apropriação do paciente e sobre a importância da manutenção do desempenho ocupacional durante a internação. Tais orientações podem ajudar a minimizar os impactos negativos da hospitalização. Durante a internação, a partir das diferentes atividades tem-se a possibilidade da ressignificação do cotidiano, ampliando e enriquecendo suas relações e vivências. Destaca-se que para a seleção de atividades é essencial considerar as reais necessidades do paciente, seu histórico ocupacional, precauções e contra indicações. Nesse contexto, recursos essenciais para o sucesso do trabalho do terapeuta ocupacional são o estabelecimento de um vínculo terapêutico intenso e a preservação de um espaço que permita uma livre escolha das atividades e do momento que deseja participar delas, sendo mais benéficas aquelas de fácil execução, em que se possa ver rapidamente o produto final. É importante salientar neste momento o perfil particular de rotinas exaustivas, procedimentos invasivos, múltiplos sintomas, complicações médicas e psicológicas que o paciente que se submete ao TCTH enfrenta. Isso exige do terapeuta ocupacional uma postura de grande flexibilidade e adequação constante para não interferir nos procedimentos médicos e de enfermagem, assim como com as mudanças drásticas de humor e de disponibilidade para o engajamento em atividades que estes pacientes apresentam. Com o decorrer do processo do TMO, a regressão física e psicológica é perceptível, alguns pacientes chegam a ficar dias sem sair da cama, com dificuldades até para se sentar. As atividades desaparecem ou diminuem significativamente, nem mesmo assistir à televisão ou utilizar o celular para se comunicar com a família é possível. Nesse período, o terapeuta ocupacional compartilha com o paciente momentos em que o terapeuta pode proporcionar o acolhimento e fortalecimento / manutenção do vínculo terapêutico. Nesta fase, a orientação de técnicas de conservação de energia no tratamento da fadiga é fundamental. Para isto, devem-se avaliar os aspectos que afetam a funcionalidade do paciente para orientá-lo de forma eficaz e, se necessário, realizar mudanças e adaptações ambientais, visando reduzir o nível de energia utilizado nas atividades desenvolvidas, maximizando a independência do paciente. Passando essa fase de extrema debilidade física, a necessidade de recomeçar aparece muitas vezes de maneira discreta, diante desse lento reinício, que coincide normalmente com a enxertia neutrofílica ou mais popularmente conhecida como a “pega da medula”. Passada esta fase, se o paciente não estiver apresentando complicações, inicia-se o preparo para alta com orientações referente a retomada do desempenho ocupacional levando em conta todas as restrições do período de pós-transplante recente, o terapeuta traz entre tantas restrições possibilidades, adaptando às atividades significativas a esse momento. As limitações ainda são muito acentuadas e o medo de não conseguir superá-las também está presente nesse período. Para alguns, este processo é mais rápido, pois apresentam uma boa evolução, enquanto outros vivenciam maiores dificuldades, só superadas em um ritmo lento. Após o processo de alta, ambulatorialmente o terapeuta mantém o acompanhamento deste paciente, para orientá-lo com base na experiência individual de cada paciente pós-transplante e suas barreiras e limitações vivenciadas em seu domicílio com o objetivo de auxiliar o paciente e sua família na reorganização de sua rotina, ambiente e retomada de suas atividades cotidianas. Nesse sentido, considerando as particularidades e necessidades apresentadas por cada indivíduo, a assistência do terapeuta ocupacional, ao buscar criar espaços saudáveis no decorrer do dia-a-dia, permite que o indivíduo desenvolva uma nova relação individualizada com seu fazer e com aquilo que precisa ou deseja realizar em seu cotidiano. Independente da fase do transplante em que o terapeuta ocupacional venha a intervir, o que pode variar de instituição para instituição, o processo terapêutico ocupacional deve iniciar com uma detalhada avaliação do histórico ocupacional dos pacientes, para compreender as necessidades individuais, considerando as ocupações que faziam parte de suas vidas antes do diagnóstico e da decisão de submeter-se ao TMO, como também no momento atual. Esta avaliação também deve incluir os planos ocupacionais para o futuro e as perspectivas do paciente, além da observação de aspectos físicos, psicológicos e sociais. Temos 4 protocolos validados que podem ser utilizados neste contexto com a população adulta: Lista de Identificação de Papéis Ocupacionais; Medical Outcomes Study-36 – Item Short-Form Health Survey (SF-36); World Health Organization Quality of Life (WHOQOL-Bref); Functional Assessment of Cancer Therapy – Bone Marrow Transplantation (FACT-BMT). Para a população pediátrica, os protocolos de avaliação, intervenção e acompanhamento do Modelo Lúdico se mostraram aplicáveis e efetivos nesse contexto. O tratamento terapêutico ocupacional com o paciente transplantado deve ser contínuo, com objetivo de reorganizar suas atividades da vida diária e melhorar sua rotina dentro e fora do hospital. Para tanto, observa-se a necessidade de um plano terapêutico ocupacional que direcionará as ações do terapeuta ocupacional. Este plano é individual, traçado a partir da necessidade e problemática de cada paciente, devendo ser consideradas suas condições clínicas, queixas, necessidades, idade, gênero, variáveis psicológicas, situação familiar, precedentes educacionais, étnicos, religiosos, sociais e o significado do transplante para cada indivíduo. Assim, pode englobar diferentes aspectos: reabilitação física, saúde mental do paciente ou impacto da hospitalização para o mesmo e para sua família. As atividades e técnicas desenvolvidas são variadas e dependem do referencial teórico adotado, do serviço e dos recursos disponíveis, podendo ser citados como exemplos: atividades lúdicas, de lazer, culturais, expressivas e artísticas, treino de AVDs, posicionamento, relaxamento, alongamento, confecção de órteses e adaptações, orientações, visitas domiciliares, ações de ambiência e humanização do contexto hospitalar. Ressalta-se, ainda, que em uma unidade de TMO há a necessidade de cuidados com os materiais utilizados pelo terapeuta ocupacional. Eles devem ser previamente selecionados e padronizados, considerando a possibilidade de risco para o paciente. Os materiais necessitam passar por uma rotina de higienização, sendo indicados principalmente os que podem ser lavados com água e sabão e que sejam resistentes à desinfecção com álcool. Caso o material seja de papel, tecido ou outro material poroso deve ser doado ao paciente ou descartado no próprio quarto.”